Há umas quase quatro décadas atrás morei em Manaus por quase um ano. Naquela época morar naquela região trazia alguns desafios muito fortes. Tudo era infinitamente mais caro, pois os alimentos e artigos necessários à vida comum, só poderiam chegar de avião. Lembro quando fui ao supermercado pela primeira vez e quase não havia o que comprar a não ser o básico do básico. E quando conseguia encontrar algo a mais, maçãs por exemplo, uma só custava o preço de um quilo aqui na região Sudeste. A energia elétrica absurdamente cara, e sem ar condicionado não se conseguia nem dormir. Surreal!
Mas uma das lembranças mais impressionantes que tenho, era o tempo que uma carta levava para chegar. Sim, sou do tempo das cartas, escritas com enorme dedicação. Minha família e amigos morando no Rio de Janeiro, escreviam sempre, mas as cartas demoravam as vezes quinze dias para chegar! Naquele momento as notícias já estavam caducas, mas eram assim mesmo ansiosamente aguardadas. Mas não havia telefone? Vocês podem perguntar. Sim havia. Mas estamos falando de uma época em que as linhas eram compradas, o impulso telefônico caríssimo e a qualidade das ligações por vezes muito ruins. Ligar para Manaus ou de lá para qualquer parte do mundo, só para ouvir a voz um pouquinho, não para conversar.
E olho para os dias atuais e percebo o quanto evoluímos em tecnologia, trazendo um conforto muito grande para nossas vidas. Mas por outro lado, o sentido imediato das coisas assumiu a dominância de tudo. Não se pode esperar nada. Temos dificuldades em aguardar um pouco mais, em esperar o tempo do outro, em entender que não seremos diretores de empresas em poucos anos, nem conquistaremos nossos sonhos em poucos meses. Os indivíduos passaram a adotar a crença de que se não consigo imediatamente o que desejo, algo está errado. Mas não está de forma alguma e precisamos urgentemente compreender isto. Neste sentido as gerações mais jovens me preocupam. Temos um grande desafio a frente: ensinar a eles o valor do tempo de espera, o sentido de se plantar e esperar pela colheita, a noção de que os pequenos ciclos da vida se conectam uns aos outros e que não se concretizam na limitação de alguns instantes. E acima de tudo, é preciso entender que tudo está mais rápido, mas que enquanto seres humanos a lógica da evolução continua a mesma: um passo de cada vez. Pensem nisso com grande atenção. Um lindo dia para todos!
Monica Cristina Guberman
Psicóloga Clínica
(19) 981512662