Em uma sociedade onde o consumo constante é estimulado por um lado, e a necessidade de se precaver para possíveis ‘tempos difíceis’ por outro, surge inevitavelmente a necessidade de fazermos uma distinção entre o que seja poupar para a realização de algum propósito e a avareza enquanto tal. Mas o que torna a avareza um dos sete pecados capitais? Neste sentido podemos falar de algo que vai muito além da simples prudência e comedimento nos atos e gastos, mas algo que faz do indivíduo que a pratica, um prisioneiro de si mesmo.
Em tempos atuais a humanidade adquiriu a grosso modo, níveis de desenvolvimento nunca antes sonhados, alcançando patamares de conforto e bem-estar nunca antes possíveis. E sendo assim falar de avareza em nossos dias pode parecer estranho, mas ela continua a existir sim, quando os limites entre o bem escolher e o bem investir em si mesmo, esbarram na escravidão auto-imposta, expressão do pânico de que o pior possa acontecer a qualquer momento. O avarento possui em seu sistema de crenças a percepção de que não importa o quanto ele venha a acumular, será sempre pouco, será sempre insuficiente, e paradoxalmente falando, quanto mais se possui, menos seguro ele se sentirá. O que nos faz pensar qual seria o motivo que pudesse justificar a sensação de que a miséria possa bater na porta a qualquer momento.
O avarento se torna refém de si mesmo por ser alguém que não acredita na capacidade que o Universo, tem de através de seus esforços pessoais e dedicação a uma vida com sentido e significado, receber aquilo que é indispensável para uma existência saudável e feliz. Movimento estranho e desconcertante, quando entendemos o quanto ele acumula e se nega a usufruir, proibindo-se daquilo que traz satisfação. Por esse motivo ele se torna pequeno em seus sentimentos, superficial em seus relacionamentos e mesquinho com a vida. A alma permanece atormentada porquê em seu “discurso da precaução e do comedimento”, ele se torna alguém que contrário a lógica da generosidade, vai se encolhendo cada vez mais, permanecendo em um mundo “cada vez menor”. A meu ver esta uma tentativa de controlar o surgimento da dor, do sofrimento e das limitações humanas que são percebidas como passíveis de serem combatidas através do acúmulo de bens materiais, uma garantia até certo ponto ilusória de ‘blindagem total’ contra as dificuldades de nossa jornada terrena. Não quero de forma alguma dizer que poupar seja um ato desnecessário. Não é isso. Mas quando a mesquinhez material se evidencia, há que se pensar em uma mesquinhez espiritual onde o ser humano se torna uma caricatura de si mesmo, por se negar o prazer de realizar coisas boas para si e para os outros. E isso dá o que pensar e nos obriga a refletir sobre a forma como vivemos todos em um só mundo, e de como a caridade, a compaixão, o desprendimento, o acolhimento que desejamos para quem está a nossa volta, deve começar com e por nós mesmos.